quinta-feira, junho 29, 2006

Fizeram os dias assim

Por mais que larguem os braços
Por mais que soltem amarras
E que se tapem as covas

Por mais que rasguem os quadros
Por mais que queimem as leis
E que os costumes esmoreçam

Por mais que arrasem as feras
E que os papões arrefeçam
E que as bruxas se convertam

Por mais que riam as caras
E que ternura se esqueça
Por mais que o amor prevaleça

Vocês
Fizeram os dias assim!

Não nos venham pedir contas
Não venham pôr-nos regras
Sabemos que os nossos dias
Não vão ser gastos assim!

Trovante

terça-feira, junho 27, 2006

Há dias assim : .

Há dias que nascemos
Ao virar de um sinal
Dias que nos correm como
Noticias de jornal
Há dias quentes de espírito
Que nos aumentam o coração
Dias como poemas inacabados
Rasgados pelo chão
Há dias que perdoamos
Se nos chamam campeões
Dias perdidos no nada
Como casas sem botões
Há dias que tropeçamos
Pela Fé e pela moral
Dias que saímos nus
Porque o que conta é natural
Há dias de gritar:
-O chefe não manda nada
Dias de beber água
Porque a republica esta parada
Há dias de S. Valentim
Ode a Camões irmão
Dias que são tramados
Como pulga no caixão
Há dias de semear
Disfarces de ditador
Dias de deitar para trás
Engolir sapos e fazer amor
Há dias que nos cativam
E receamos o seu fim
Arejados, saltitantes e gentis
Há, por acaso, dias assim…

Murmuras : .

Murmuras segredos da noite,
Nos olhos e no toque,
Te sorrio à procura sempre do outro lado de mim
E busco freneticamente o teu sorriso,
A tua atenção,
Sou o farol que desvia o teu olhar
E te guia até ao meu porto de abrigo
Sou a tua sombra, o teu amante,
A tua costura no peito, o teu amigo.
Sou a cambalhota do trapezista
Que sustêm o teu respirar
Sou o teu sapato gasto,
E hoje vamos dançar.
Procuro-te na poesia
Pedaço de papel quebrado
No bolso da fantasia
Guardei o teu toque
A tua pele, o teu rosto, o teu dourado.
Joguei contigo aquela peça
Dois lançamentos, casa preta
Trocamos sinais e acertamos.

Ainda tive tempo de ser o brilho nos teus olhos
Segundos de felicidade que valem uma vida.

sexta-feira, junho 23, 2006

onde te vais esconder?

Desculpa o silêncio
Que trago em mim,
São gritos que penso
Que calo assim.
Desculpa as palavras
Que não saem da voz,
São noites cansadas,
Pedaços de nós.

E tu, onde te vais esconder?
E tu, onde te vais esconder?

Desculpa o beijo,
É o desejo a morrer.
E tu, onde te vais esconder?

Desculpa os dedos
Que te querem tocar,
Descobrem segredos
De suor e de mar.
Desculpa as manhãs
Em que acordas sozinha,
Levou-me a maré
As memórias que tinha.

E tu, onde te vais esconder?
E tu, onde te vais esconder?

Desculpa o beijo,
É o desejo a morrer.
E tu, onde te vais esconder?

Quanto tempo passa,
Quanto tempo tenho,
Quanto tempo fica p’ra te dar.
Quanto tempo vais,
Quanto tempo ficas longe,
Quanto tempo tenho para te dar mais?
Por quanto tempo partes,
Quanto tempo levas,
Quanto tempo deixas o teu corpo em mim?
Quanto tempo pedes,
Quanto tempo guardas,
Quanto tempo temos, quando o tempo chega ao fim?
E tu, onde te vais esconder?

Pedro Abrunhosa

quarta-feira, junho 21, 2006

Acerta-se a Rima : .

Hoje envolvi a tua mão
com a minha
fechei-a e pedi-te um segredo
vais junta-la no teu peito
e adormecer com ela no enredo
desse teu sono
que persegues há minutos
eu vejo-o
como a montra vê os putos
como a luz vê os vultos
e desenho com o meu olhar
o teu caminho
com o meu pensamento
o teu destino
agora corres,
agora paras
olhas para a direita
olhas para cima
a lua se deita
acerta-se a rima.

Holla!comovais? : .

segunda-feira, junho 19, 2006

REFRIGÉRIO

um homem e uma mulher
aproximam-se de uma porta
com uma chave na mão.
avançam
como se não respirassem.
um deles
mete a chave na fechadura
e entram.
assim que fecham a porta
atrás de si,
olham-se um instante e
lançam-se um ao outro,
prendendo-se com as mãos e
abrindo caminho com a cara, com a boca.
passado pouco tempo
arrastam-se no chão
procurando cada lugar do corpo
com cada lugar do corpo,
arqueando-se
ou amoldando-se evorazmente
passando de uma para outra entrada.
ambos têm a boca molhada
quando se levantam,
passada uma hora,
arfando enlaçados,
mas
devora-os ainda
uma sede quase infinita
e impossível de satisfazer.

ALBERTO PIMENTA

(Um chamado) Desejo Eléctrico

Ter uma irmã uma companhia real ou fantasia
Alguém como eu e tão diferente como quem rasga um véu

Ser como ela e por dentro quente
Ser dois corpos alguém ausente

Ter que ser velho e como um bebé sonhar dormir de pé
Pago um preço ofereço um berço onde já estive doente
Pago um preço ofereço um brinquedo que embalei dolente

Ser como ela e por dentro quente
Ser dois corpos presente

Pago um preço dou um sorriso
Pago um preço o meu primeiro dente

Qual é o teu preço brinca comigo (fica comigo)
Qualquer preço recordações da avó

E pago o teu preço
Qual é o teu preço
Não te mereço
Qualquer preço
Recordações em pó.

GNR

quinta-feira, junho 15, 2006

Manequim : .

O ultimo ramo de flores
Caia estatelado naquelas tábuas
Que juntas são um palco
O Ponto disse: -Até amanhã.
Despi aquela farda que me tornava alguém
Limpei a pintura que alegrava alguém
E em cima da mesa as mensagens do costume:
De alguém.

A chuva parou há pouco
E pela rua molhada
Espelha-se o reflexo dos néons.
Havia um diferente, meio apagado,
Tombado,
Como se tivesse os dias contados,
Fez-me erguer a cabeça,
Por entre as golas do meu sobretudo
Conseguia-se ler,
Na porta: “Vende-se”
Na montra um manequim
Vestido duma data extemporânea
Com uma cor extemporânea
Com uma pose, um cabelo e um olhar
Extemporâneos.

O rio teimava acompanhar-me
Queria contar os meus passos?
Mas aquele manequim fixava-me
Todas as ideias.
Adormeci guardado naquele olhar
De manhã acordei extasiado
Parecia que o calendário tinha parado
Não me preocupava cumprir os compromissos
Que anos havia apenas vivido.
Preocupava-me aquela montra.
Preocupava-me aquele manequim.
Duas semanas passaram
Todos os dias no final do espectáculo
Eu voltava por aquela rua
E passava horas falando para aquela montra
Não é que o manequim se ria
Por vezes dançava para mim
Fazia caretas, chorava,
Chegou até a beijar o vidro
E eu senti aquele calor labial!
Sentia-mos uma dependência além
Do natural, além do físico
Além do explicável por qualquer formula
Matemática criada até hoje.
Decidi aparecer numa tarde
A rua parecia outra
Pessoas passavam sem vida
O barulho de tudo que parecia ter vida
As crianças corriam para a vida.
As aves rasavam com vida
Dois idosos restavam da vida.
Prostitutas voltavam e vendiam
A vida.

O néon estava direito
A fachada pintada de fresco
A montra tinha outra arquitectura
Mas não havia mais manequim
Naquele lugar agora
Três arames com pano
Candeeiros de arame
Letras grandes de números
Presas em arame.

Começava a musica
Era o mote para a minha entrada fulgurante
Sei que a sala estava cheia de alguém.
Sobre as luzes dos projectores
Os olhares fixos avalizantes
E eu seco, sem sabor,
Sem manequim não havia espectáculo
Sei que não tinha alimento quando
Sai-se dali.
O Ponto aumentava a voz
Sentia que eu não ouvia.
Tudo parou,
Fez-se silêncio
Pareciam horas que me permitiram
Perceber o que cada rosto era em alguém
Apagaram-se as luzes
Desapareciam os rostos
Surgia alguém a assobiar
E ria…
E eu conhecia aquela gargalhada
Levantou-se do meio de alguém
Quem eu conhecia
Aquele manequim que agora
Aplaudia e retorquia
Com bravos e flores
Afinal existia e tinha vida
Foi liberta e procurou-me.

No meio da multidão
Não atendemos
Quem precisa da nossa atenção
Sem os pequenos sinais.

terça-feira, junho 13, 2006

Não são só Pontos : .

Surpresa! : .

Enfim anoiteceu
Acenderam-se as luzes
De regresso a casa,
A caixa do correio vazia.
Peguei um copo de leite
Tirei a roupa e pousei-me sobre a cama
Fiquei minutos a olhar o tecto
Branco,
Com a luz do candeeiro reflectida
Olhei para cabeceira
Estendi o braço
E puxei aquele livro
De poemas que te disse que ia ler
Na capa uma imagem de praia
Corpos desnudados
Duas palmeiras
E um por do sol
Já tem uns anos, pela imagem!
Eu já não imagino o paraíso assim.

Tocou o despertador,
Acordei alvoraçado,
Tinha adormecido a ler o livro.
Incrível como o tempo passou!
E eu nem vivi aquelas 4 horas…
Noticias na rádio,
Guerra, impostos a subir
Casos judiciais e futebol.
O computador ficou ligado
A caixa de correio cheia:
Reenviadas, reenviadas,
Publicidade, reenviadas,
Há… Uma piada nunca antes vista!
Tinha de ser do Bush.

È hora de tomar um bom banho
Colocar-me à estrada
Hoje prometo que vai ser um dia diferente
Tal como este texto que não diz nada…
Obrigado por teres lido.

domingo, junho 11, 2006

sexta-feira, junho 09, 2006

Onde estavas há 1 ano ? : .

Barco para Afurada

Leva homens, poetas
E gente encantada,
Trocam beijos, piropos
Pedaços de nada.
Na margem espera
A pressa do dia,
Ficam presas em terra
As vidas vazias.

Atravessam soldados, amantes,
E velhos distantes
E loucos contentes,
Meninas de lábios cortantes
E olhares provocantes
Seduzem correntes.

Rasga o silêncio da estrada
Rio madrugada,
D’ouro, marfim.
O Barco para a Afurada
Cidade cansada
Tão longe de mim.

Rezam padres discretos, selectos
E amores inquietos
Navegam o rio,
Mulheres de futuro cansado
Murmuram um fado,
Enganam o frio.

Sob a sombra da ponte,
Que é a sombra do mundo,
Cada onda é um canto
De um dia profundo,
E o piloto conduz
Mais do que as gentes que leva,
São os sonhos que estão
Ancorados em terra.

Tocam-se valsas
E roçam as calças
Por entre dois passos de dança,
Despertam amores,
Esquecem-se as dores
Que o desejo ardente não cansa.

E solta-se o mar
A reboque dos sinos,
São os homens que o barco
Faz de novo meninos,
E acordam poemas
Libertos na voz,
Descobrem apenas
Que não estão sós.

Barco que trago no peito,
Meu sonho desfeito,
Espera por mim.


Pedro Abrunhosa

Agarra-me esta noite

"Onde estiveres, eu estou
Onde tu fores, eu vou
Se tu quiseres assim
Meu corpo é o teu mundo
E um beijo um segundo
És parte de mim

Para onde olhares, eu corro
Se me faltares, eu morro
Quando vieres, distante
Solto as amarras
E tocam guitarras
Por ti, como dantes

Agarra-me esta noite
Sente o tempo que eu perdi (mmmmm)
Agarra-me esta noite
Que amanhã não estou aqui."

Pedro Abrunhosa

terça-feira, junho 06, 2006

A vida como um bolo : .













Imagina a tua vida como este bolo...

segunda-feira, junho 05, 2006

Quero : .

Quero ver-te dançar na manhã clara
Quando sol não quiser se esconder do céu
Quero ver-te rodar de braços no ar
Ver o teu vestido cobrir-te como um véu
E se fores a cair quero-te amparar
Escrever na praia: “meu coração é teu”

Quero ver-te apanhar o último comboio
Persegui-lo até ao fim da estação
Quero amanhecer tombado em ti
Sentir o bater do teu coração
E escrever em poema tudo o que vi
E gritar que te amo no meio da multidão.

Quero saber como são os teus pés
Quando danças descalça no areal
Escolher a tua melhor fantasia
Enroscar num samba de Carnaval
E depois beber aquela sangria
Acabar num rodo de atracção fatal.

Quero descer a avenida de encontro a ti
Sacar-te um beijo no número 500
Quero pintar-te nas ruas da cidade
Contornar-te o corpo com mil beijos sedentos
Quero reunir nossos sentimentos
Nossa felicidade
Nossa harmonia
Nosso dia-a-dia...