sexta-feira, julho 28, 2006

Saudades do Futuro

Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ah, saudade…
Chegou hoje no correio a notícia
É preciso avisar por esses povos
Que turbulências e ventos se aproximam
Ah, cuidado…

Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ah, saudade…
Foi chão que deu uvas, alguém disse
Umas porém colhe-se o trigo, faz-se o pão
E se ouvimos os contos de um tinto velho
Ah, bebemos a saudade…

Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ah, saudade…
E vem o dia em que dobramos os nossos cabos
Da roca a S. Vicente em boa esperança
E de poder vaguear com as ondas
Ah, saudades do futuro…

Trovante

RESTOLHO

Para mim é uma lição de vida
e é da autoria de uma grande mulher

"
Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda

Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver
e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
prá receber daquilo que aumenta o coração"
Mafalda Veiga

Até já...
















(www.olhares.com)

quarta-feira, julho 26, 2006

Memórias de um beijo

Lembras-me uma marcha de lisboa
Num desfile singular,
Quem disse
Que há horas e momentos p´ra se amar

Lembras-me uma enchente de maré
Com uma calma matinal
Quem foi
Quem disse
Que o mar dos olhos também sabe a sal

{as memórias são
Como livros escondidos no pó
As lembranças são
Os sorrisos que queremos rever, devagar}

Queria viver tudo numa noite
Sem perder a procurar
O tempo, ou o espaço
Que é indiferente p´ra poder sonhar

Quem foi que provocou vontades
E atiçou as tempestades
E amarrou o barco ao cais
Quem foi, que matou o desejo
E arrancou o lábio ao beijo
E amainou os vendavais

Trovante

terça-feira, julho 25, 2006

Bom dia : .

Apanha o sol com o olhar
como o pegar numa criança
e sente o nascer do dia
como o convite para uma dança.

E tu é quem conduz
o teu par é o mundo
os teus passos são de luz
e a dança é para amar

segunda-feira, julho 24, 2006

Poema Desatinado (inédito-2ª publicação)

Tu és poema desatinado
Concerto de violino rasgado
Flores envoltas num tornado
Rosto de filho zangado
Perdido chão de achado

És poema caricato
Repetido norteado
Confúcio e Viriato.
Louca onda batendo no cais
Profeta de doses bestiais
Rua estreita de vendavais
Carrossel desgovernado
Propulsor acelerado
Patrão alvoraçado
Potro rude cavalgado

Tu és assim e te fiz rainha
Numa noite de luar
Desejava ver-te minha
E até poder cantar
Sonetos e chilrear
Na manhã ao teu lado
Tipo dente e rebuçado
Mas rodas-te numa dança
Passo valso e desgovernado
E na volta de um beijo de ansa
Sou só teu equivocado.

As pessoas são estranhas : .

As pessoas são estranhas
Quando nos sentimos estranhos
Explorando as entranhas do seu olhar
Eu fico estranho, quando um estranho
Me olha de lado e com significado desse olhar.

quinta-feira, julho 20, 2006

Efeito















(www.olhares.com)

A Causa : .

O sol que dá luz ao dia
Brilha como o teu sorriso
Que me invade a manhã
Com vontade de realizar um milagre:
Hoje vou ser Deus,
E tu a causa porque luto.

terça-feira, julho 18, 2006

Por Existir : .

Hoje gostava de te abraçar
Embalar
Destapar-te na cama e beijar.

Hoje gostava de me envolver contigo
Ser vadio
E roubar-te um momento de amigo

Hoje podíamos guardar o tempo
Em silencio
Partilhar de olhares o momento

Hoje podíamos só sorrir
Insistir
Resistir e depois partir

Podíamos deixar-mo-nos caídos
Perdidos
Confundidos
E voltar para trás querer mais
E mais
E sorrir como crianças
Como sol por entre as nuvens
Amainando a tempestade.

Hoje e amanha e depois
Sermos dois
Sem receio de proveito
Sem defeito
Porque amar é natural
Como orvalho matinal
Se ele cai é porque existe
E não é triste
Por existir.

segunda-feira, julho 17, 2006

Pequeno Pormenor

Pequenas coisas que faltam na vida
Tornam-se as grandes incompletas
Pequenas coisas fazem parte
Não te esqueças
A grande ponte para lado nenhum
Fica distante da pequena estrada
Esburacada, onde arriscas a vida
necessáriamente
E se tudo é um todo
E o todo é que importa
Não ponhas de lado
Aquilo que falta
Mesmo que não tenhas tempo
Pensa o que tens a fazer
Mede bem a importância
Dum pequeno pormenor
Um parafuso no foquetão
Um beijo ao deitar, um papel no chão
Uma prenda com cartão, um voto aqui
Ali um não
A justiça em grande faz sombra à pequena
Frágil, diária de todos
Tantas pequenas injustiças
tornam falso o sistema
A pequena dor nunca aliviada
Nas filas de espera do grande hospital
torna a doer, mesmo que te digam
vais ser atendido mais lá pro outro natal
Se tudo é um todo
E o todo é que importa
Não ponhas de lado
Aquilo que falta
Mesmo que não tenhas tempo
Pensa o que tens a fazer
Mede bem a importância
Dum pequeno pormenor
Um parafuso no foquetão
Um beijo ao deitar, um papel no chão
Uma prenda com cartão, um voto aqui
Ali um não
Xutos & Pontapés

quarta-feira, julho 12, 2006

CHEGASTE-ME EM SONHOS

Chegaste-me em sonhos. Nem era uma praia,
uma ilha deserta, uma gruta pré-histórica,
mas dei por mim a escrever-te cartas de amor
com estalactites, como se banhasse o chão
a derreter-me a alma com o seu frio líquido
e o seu ridículo fugaz, desproporcionado na solidão,
mas ridículas não são as cartas, apenas as palavras.

Via-te como uma deusa, uma desconhecida
filha de santa, pastora dos rebanhos sagrados
da montanha, amante da poeira de livros antigos
em homenagem à passagem do tempo, provadora
de líquens e cultivadora de plânctons, observadora
de peixes em movimento, mascarados de adjectivos,
nadando fora dos aquários ainda sem destino.

Embebido na angústia, à luz frágil de uma fogueira,
medito em coisas únicas, em quietos sobressaltos
de sombras espalhando-se no silêncio das paredes
e como foi bom apareceres por aqui, no descampado
das páginas por encher de ideias e de folhas verdes,
como as das árvores mais altas, usadas para desanuviar
a chuva nas pálpebras dos seres tristes. Anjos acabrunhados
e olvidados da sua missão obrigatória, de se render
aos benéficos percursos, desenhados por novas mãos
apaixonadas pelo teu corpo, onde não se vislumbra
até onde pode ir o sofrimento. É uma poção envenenada,
impura, a juntar na dor as carícias, como numa tempestade
se procuram os sobreviventes temerosos da morte,
e a colocá-los em altares da eternidade, na escuridão.

Olho-te nos olhos e encegueiro. Confesso-te
a impossibilidade de manter a imagem precisa
que me atormenta no centro destas palpitações
a invadir-me a memória. Mas condescendo, aceito
o preenchimento de todo este vazio, deste nada
cristalizado em versos, com o eco do teu chamado,
ciciado nas noites infinitas, obrigando-se a partir
em permanente viagem. Não conheço, ou já esqueci,
o mar de sentimentos que antes me oprimia o peito.

O dia, pressinto-o agora, fica muito longe de mim,
construído com o vão arfar de um pesadelo alado,
sepultado em ruínas pelo matagal de um existir
a que no eco das distâncias recuso revelar um fim.
Para relembrar-te deito-me com um monte de pedras
e abraço-o, acordando de madrugada, clamando por ti.


José António Gonçalves(inédito.02.11.04)

125 Azul (uma história interessante)

Foi sem mais nem menos
Que um dia selei a 125 azul
Foi sem mais nem menos
Que me deu para abalar sem destino nenhum

Foi sem graça nem pensando na desgraça
Que eu entrei pelo calor
Sem pendura que a vida já me foi dura
P´ra insistir na companhia

O tempo não me diz nada
Nem o homem da portagem na entrada da auto-estrada
A ponte ficou deserta nem sei mesmo se Lisboa
Não partiu para parte incerta

Viva o espaço que me fica pela frente e não me deixa recuar
Sem paredes, sem ter portas nem janelas
Nem muros para derrubar
Talvez um dia me encontre
Assim talvez me encontre

Curiosamente dou por mim pensando onde isto me vai levar
De uma forma ou outra há-de haver uma hora para a vontade de parar
Só que à frente o bailado do calor vai-me arrastando para o vazio
E com o ar na cara, vou sentindo desafios que nunca ninguém sentiu
Talvez um dia me encontre
Assim talvez me encontre

Entre as dúvidas do que sou e onde quero chegar
Um ponto preto quebra-me a solidão do olhar
Será que existe em mim um passaporte para sonhar
E a fúria de viver é mesmo fúria de acabar

Foi sem mais nem menos
Que um dia selou a 125 azul
Foi sem mais nem menos
Que partiu sem destino nenhum
Foi com esperança sem ligar muita importância àquilo que a vida quer
Foi com força acabar por se encontrar naquilo que ninguém quer

Mas Deus leva os que ama
Só Deus tem os que mais ama

Trovante

quinta-feira, julho 06, 2006

Poema à tardinha : .

Tu és poema à tardinha
Escrito com letra miudinha
Em tom de corar
Desdenhado no olhar
Quando vês partir o sol.

És contorno em horizonte
Fio fresco de uma fonte
Rara pedra preciosa
Cor perdida de uma rosa
Entre canto rouxinol.

És apoteose, efeméride
Acaso e serie breve
Tabuada soletrada
Frase longa depravada
De final a divagar.

Não existe só fonemas
Nem existem só poemas
Nem flores nem sabores
Nem espadas nem louvores
Que te deixem acreditar?

Foi Deus que te criou?
Não foi artesão que te moldou,
Nem pintor que te fez em tela,
Nem poeta que te espelha
nessas formas mais perfeitas?

Esse olhar é tão meigo
E tudo mais de que sou leigo
Mais que sonho se te deitas
Mais que deito se te vejo
E arraso se me aceitas
E aceito num só beijo
E beijas todo o desejo
E desejas se te deitas
E deito se me aceitas
Se te beijo e desejo...
Tu aceitas?

quarta-feira, julho 05, 2006

Marcha Dos Desalinhados

Eu não quero estar parado
fico velho
vou marchar até ao fim
isolado
nesta marcha solitária
dou o corpo, ao avançar
neste campo aberto
ao céu

ninguém sabe
para onde eu vou
ninguém manda
em quem eu sou
sem cor nem deus nem fado
eu estou desalinhado

por tudo o que eu lutei
ser sincero?
por tanto que arrisquei
ainda espero ...
esta marcha imaginária
quantas baixas vai deixar
neste sonho desperto?

Delfins

Algumas das minhas obras : .

Por vezes sentimo-nos tão pequeninos...















Agitaram-se as águas...














Um tapete natural... Apetece rebolar...














Maravilho...Até nos podia picar mas é um exemplar fantastico!















Textura de uma noite...

sábado, julho 01, 2006

Um Homem na Lua : .

O Amor segundo o MEC

- A morte é um nojo. Morrer é uma autêntica vergonha. Que sentido é que faz? A vida pode não ser bonita, mas a morte é um horror. Qual paz, qual sopa de alho porro. Qual "não tenhas medo, estás nas mãos de Deus"! Diante da morte, o medo é a única reação sensata que se pode ter. A morte é um atraso de vida.

- A vida pode ser difícil mas a morte é demasiado fácil. A vida é diferente mas a morte é igual. A vida é comprida. A morte é um instante. Da nossa vida tudo nos é pedido e esperado. Da morte ninguém exige nada. Mais vale viver mal e errado que morrer bem a arrumado.

- Um menino é um fascista com lapsos de anjinho. É um tirano-junior maníaco depressivo de lágrima-puxa-risota e risota-puxa-birra, com o coração mais branquinho, a transbordar de fuligem e de maldade. É um psicopata com as asas presas nos suspensórios.

- Voltar a Portugal é como voltar a fumar: é maravilhoso e, ao mesmo tempo, horrível.

Miguel Esteves Cardoso - O Amor é Fodido