terça-feira, dezembro 26, 2006

Murmuras : . (R)

Murmuras segredos da noite,
Nos olhos e no toque,
Te sorrio à procura sempre do outro lado de mim
E busco freneticamente o teu sorriso,
A tua atenção.


Sou o farol que desvia o teu olhar
E te guia até ao meu porto de abrigo.


Sou a tua sombra, o teu amante,
A tua costura no peito, o teu amigo.
Sou a cambalhota do trapezista
Que sustêm o teu respirar
Sou o teu sapato gasto,
E hoje vamos dançar?


Procuro-te na poesia
Pedaço de papel quebrado
No bolso da fantasia
Guardei o teu toque
A tua pele, o teu rosto, o teu dourado.
Joguei contigo aquela peça
Dois lançamentos, casa encarnada
Trocamos sinais e acertamos.

Ainda tive tempo de ser o brilho nos teus olhos
Segundos de felicidade que valem uma vida.

Uma mulher só : .

Uma mulher só
Uma mulher com mãos desenhadas da vida
E o encantamento que faz parar
E apreciar
Duma tela saída
E encostada na paisagem
De um lugar
E uma viagem

No outro dia vi-a sorrir,
Hoje vi-a tapar o sorriso
E andava sem destino,
Ou de destino decidida
No rosto fazia-se nua
Para mim disse de cor
Essas marcas de sabor
São as fases da lua.

Apetecia pegar nela
E dizer-lhe como é bela
Abraça-la e possuir
Tudo o que possa sentir
Num descuido singelo
Para que tudo fosse belo
Como a cor do seu cabelo
E tombar adormecido
Tal fosse esse o seu pedido
Com um beijo na face
Feito toque de arte
E deixa-la caída na noite
Feita em pó
Uma mulher só

Se Calhar : .

Se calhar havia uma árvore.
Uma arvore que fazia sombra aos humildes
Dava fruto aos esfomeados
E alegrava os namorados que se encostavam a ela
e debaixo da sua bela folhagem
davam o primeiro beijo
em cima do banco.

Se calhar era uma praça,
de gente que passava
e os vendedores ambulantes
armavam a sua barraca e vendiam os sabores da região.

Se calhar eram sabores que se misturavam com cheiros
e faziam sorrir a bela dama
que os sentiam numa noite de romance,
amor, fantasia e…
intermináveis carinhos.

Se calhar os transeuntes,
os palhaços, a menina das pipocas,
a criança que cavalgava nos ombros de seu pai
e brincava com o martelo que fazia sons,
a banda que se balança na caixa do camião,
os copos cervejas que caiam pelo chão.

Se calhar o rio que fica à esquerda,
a ponte, os barcos, todos os seres vivos,
os sons, os sabores
não viverão o suficiente para recordar aquela noite.

Se calhar, inventaram a cambalhota
para te ver soltar os mais espontâneos e belos sorrisos,

Se calhar criaram os morangos para te ver corar.
Se calhar o teu sabor é mel e amêndoas,
caramelo e chocolate
.

domingo, dezembro 17, 2006

Voltas : .

Era um som que me levava
a ver o mar e pintar
de olhos fechados o teu rosto

a alcançar o infinito horizonte.

Achei que pensarias

que nessa altura também
eu estaria a ouvir

uma música de Tchaikovsky.

O mar batia nas rochas,

o sol batia nas pedras molhadas
e o teu rosto iluminava-se.

Eu fotografei-te assim.

Ainda molhavas os pés
na natureza daquela passagem.

Guardava uma frase

para que voltasses
e me olhasses
sem que te apercebesses
que eu te soprava ao pescoço
num carinho sem pouse definida
num estalo de coragem
versus emoção
versus paixão
versus mundo sem tempo.

No arrepio do momento

dancei com os olhos
sobre o teu cabelo,
segurei eternamente o perfume
do teu sabonete
e cuidei
do meu sorriso
para te receber melhor.

As marcas dos teus pés

permanecem na areia
sempre que desejo,
agora sem me aperceber,
ver-te caminhar,
num nascer da noite eterna aliada ao meu sonho...

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Sem comentários

"Para que o sono, a fortuna e a saúde sejam realmente apreciados, devem ser interrompidos."
Jean Paul Richter

Eu bem digo: aquela coisa da felicidade...

"A cada minuto que passamos com raiva, perdemos sessenta felizes segundos."

William Somerset Maugham

de Goudi

"Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito."
Jean Paul de Goudi

AVISO À MUSA ( :sem respirar: )

Por onde andas já lá estive.

Limbo, pântano, barco à deriva.

Madrugada eterna. Sol prisioneiro.

Savana de chuvas frias de Dezembro.

Silêncios de igreja. Sonhos lilases

em rimas desfeitas. Papel inútil

debaixo do travesseiro. Canetas

esquecidas pelo chão. Tapetes sujos

de terra. Maçãs mordidas. Camas

em desalinho. Por aí já viajei, fútil,

abandonado, perdido. Nas chamas

de outros infernos. Na mão, o vinho,

onírica companhia. Há odes de poetas

ao longe, em gincanas de letras, ácaros

das literaturas desenganadas. Verdes

são azuis aos seus olhos. Pássaros

fugidos da gaiola da inspiração. Amam

as paisagens, como Platão a mulher

e não poupam o vento para o dizer.

Lembro-te, minha musa, como te perdes

nos braços dos cegos que proclamam

os teus ditâmes. És bruma: não me ames

e permite-me divagar por estes caminhos.

Ao menos conheço-os. Pressenti-os um dia,

numa aluvião desorganizada de pergaminhos,

alagando de esplendor todas as cidades.

E então morri, devastado na vã loucura

dessas invencíveis e demoradas tempestades,

moldadas em espirais de paixão oculta, em pura

explosão de incomensurável e revôlta poesia.

José António Gonçalves

quarta-feira, dezembro 06, 2006

O Terminal

O Terminal, filme que revi esta semana. Eu sou publicamente assumido anti-Tom Hanks. No entanto adorei a participação dele no “Forest Gump” no qual ganhou um Óscar e neste filme “O Terminal” no papel de Viktor Navorski. Poderia no entanto ser mais um filme sob a direcção de Spielberg. Baseado numa história de Andrew Nicol e Sacha Gervasi, achei que é sobretudo uma grande mensagem a ter em conta.
A mensagem é a da espera. Toda a gente está à espera de algo. O palco é um terminal de aeroporto mas podia ser um supermercado, uma escola, uma estação de serviço, entre tantos outros locais.
É curioso como sobre a inocência humana nós podemos aprender tanto, como o simples facto de que a espera compensa. Os provérbios populares costumam dizer que quem espera sempre alcança ou o maior juiz é o tempo. No entanto a espera pode estar associada a tantos objectivos e tão diversos que por vezes nos deixam hipnotizados levando-nos a correr sempre em fila indiana não nos apercebendo que estamos a ir para lado nenhum.
Há esperas instantâneas, como o sinal verde para arrancar num qualquer cruzamento. Há no entanto esperas que duram anos e mesmo vidas.
O facto não é esperar, o facto é gratificarmo-nos com a espera. É cumprir o objectivo da espera. Mudou o sinal para verde e arrancamos. Esperamos e agora somos compensados com a segurança em atravessar aquele cruzamento.
Hoje fiz o exercício num bar enquanto ia desfolhando as páginas de um jornal. Durante 15 minutos apercebi-me que o dono do bar esperava que a empregada fosse servir os clientes de uma mesa que ficava ao fundo junto a uma máquina de tabaco para passar a conta de despesa. A empregada esperava que os clientes, um grupo de 5 amigos escolhessem entre si as bebidas. Um senhor de idade esperava a hora de abertura de um posto de correios enquanto ia trocando algumas impressões sobre as notícias da actualidade com o dono do bar. Um casal, eventualmente muito íntimo, esperavam não serem encontrados pelos seus parceiros, recatando-se na parte mais escura do bar. Um bebé esperava no seu carrinho inocentemente que sua mãe termina-se o seu café e cigarro para sair para o ar um pouco mais puro da rua. A mãe dessa criança preocupada com a chuva que ia caindo na rua esperava a abertura da farmácia para assim atravessar apressadamente para não se molharem tanto. Isto foi tudo o que aconteceu em 15 minutos. No o exercício podia ser estendido no tempo e perceber o que aconteceria dali a 15 anos. Será que o dono do bar vai esperar muito mais até se reformar, passar o bar e ir fazer a viagem ao Egipto que me parecia ele tanto apreciaria ou por ser de lá descendente, pela cor da pele e pela feição, ou talvez voltar ao seu país. Será que a empregada irá esperar um dia pelo cliente que a levará ao altar, se sente numa daquelas mesas e lhe faça sucessivas declarações de amor, ou partirá para outra terra, outro país e/ou outro emprego? O casal na sua intimidade, irão eles esperar muito mais tempo para se juntarem definitivamente abdicando de tudo o que construíram com os seus outros parceiros, ou farão daquela relação uma relação de risco e por isso muito mais apetecível? O bebé vai esperar quantos anos para dizer à sua mãe que não devia fumar? A sua mãe vai esperar quantos anos para perceber que por mais atenção que tivesse dado ao seu filho ele ingressou por outros caminhos menos correctos na sociedade? E o reformado? E do grupo de amigos, quantos existiram daqui a uns anos?
Todos esperamos a curto ou a longo prazo por algo. As ruas estão decoradas, as casas arranjadas esperando as festas que se aproximam.
Eu espero que vocês sejam as pessoas mais felizes do mundo.
E vocês que esperam?

sábado, dezembro 02, 2006

Indispensável - Rolling Stones : Angie

Angie... Angie...Quando todas aquelas nuvens desaparecerão?

Angie... Angie...Para onde isso nos vai conduzir a partir daqui?

Com nenhum amor nas nossas almas

e nenhum dinheiro nos nossos casacos

Não podes dizer que estamos satisfeitos.

Angie... Angie...Não podes dizer que nunca tentamos

Angie... És linda...Mas não é o momento que dissemos adeus?

Angie... Eu ainda te amo...

Lembra-se de todas aquelas noites que choramos?

Todos os sonhos que seguramos tão firmemente pareceram

Evaporar-se na fumaça.

Deixa-me sussurrar no teu ouvido:(Angie... Angie...)

Para onde isso nos vai conduzir a partir daqui?

Oh! Angie... não chores...Todos os teus beijos ainda têm gosto doce

Eu odeio essa tristeza nos teus olhos.

Mas Angie... Angie...Não é o momento em que dissemos adeus?

Com nenhum amor nas nossas almas

e nenhum dinheiro nos nossos casacos

Não pode dizer que estamos satisfeitos.

Mas Angie... Eu ainda te amo, Baby!

Em todo lugar que procuro, vejo os teus olhos

Não existe uma mulher que chegue perto de ti.

Vamos Baby! Enxugua os teus olhos

Mas Angie... Angie...Não é bom estar viva?

Angie... Angie...Eles não podem dizer que nunca tentamos.

Em poucas palavras a roda-viva : .

Eu sei que para onde eu vou
Já de lá voltei.

O escravo que se apaixonou
Outrora fora rei.

Tu não és o único a estar só
Quando queremos ver a solidão basta limpar o pó.