sábado, julho 14, 2007

O quarto de Santana : excertos - pecados- desvaneios e carros potentes : .

Ao canto da sala, pousada vazia e degradada, sentada com a cabeça entre as penas tentava entender as fraquezas do caminho que tomara. O cinzeiro ainda fumegava e a janela batia em movimentos ritmados pelo vento que insistia espreitar aquele momento.
A cama permanecia desfeita, a guitarra encostada na poltrona e pelo chão peças de lingerie sugeriam a direcção do leito confuso de lençóis de seda. Sapatos altos tombados cada um para seu lado, gravata presa na cabeceira da cama, copos de champanhe com batom, e um choro de santa.
Perguntava-me porque uma bíblia se abria naquela secretária, e algumas páginas baloiçavam como que pedindo liberdade ou invés uma caça perfeita em que cada punhado de letras transformadas em palavras que ficam e guiavam o passo seguinte de encontro a algo daquela mulher…
Tatuada e nua, descalça e talvez gelada, com um brilho de santa. Era capaz de lhe dar a mão, e dizer-lhe que a perdoava, mas apenas voltou para levar as chaves do Larborghini de 88. Está com pressa. Está vivo, sabe muito da vida e quase nada do outro lado.