Por onde andas já lá estive.
Limbo, pântano, barco à deriva.
Madrugada eterna. Sol prisioneiro.
Savana de chuvas frias de Dezembro.
Silêncios de igreja. Sonhos lilases
em rimas desfeitas. Papel inútil
debaixo do travesseiro. Canetas
esquecidas pelo chão. Tapetes sujos
de terra. Maçãs mordidas. Camas
em desalinho. Por aí já viajei, fútil,
abandonado, perdido. Nas chamas
de outros infernos. Na mão, o vinho,
onírica companhia. Há odes de poetas
ao longe, em gincanas de letras, ácaros
das literaturas desenganadas. Verdes
são azuis aos seus olhos. Pássaros
fugidos da gaiola da inspiração. Amam
as paisagens, como Platão a mulher
e não poupam o vento para o dizer.
Lembro-te, minha musa, como te perdes
nos braços dos cegos que proclamam
os teus ditâmes. És bruma: não me ames
e permite-me divagar por estes caminhos.
Ao menos conheço-os. Pressenti-os um dia,
numa aluvião desorganizada de pergaminhos,
alagando de esplendor todas as cidades.
E então morri, devastado na vã loucura
dessas invencíveis e demoradas tempestades,
moldadas em espirais de paixão oculta, em pura
explosão de incomensurável e revôlta poesia.
José António Gonçalves
2 comentários:
lindo...
no se a quien le regalas tu eternidad, pero a mi regalaste una sonrisa y una subida de animo, gracias Davide, siempre las palavras.
ahora ya se a quien va
me desperte.
soñe.
en el jardin, y en tu mar de sentidos poeticos.
gracias gracias!
besos
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