segunda-feira, dezembro 11, 2006

AVISO À MUSA ( :sem respirar: )

Por onde andas já lá estive.

Limbo, pântano, barco à deriva.

Madrugada eterna. Sol prisioneiro.

Savana de chuvas frias de Dezembro.

Silêncios de igreja. Sonhos lilases

em rimas desfeitas. Papel inútil

debaixo do travesseiro. Canetas

esquecidas pelo chão. Tapetes sujos

de terra. Maçãs mordidas. Camas

em desalinho. Por aí já viajei, fútil,

abandonado, perdido. Nas chamas

de outros infernos. Na mão, o vinho,

onírica companhia. Há odes de poetas

ao longe, em gincanas de letras, ácaros

das literaturas desenganadas. Verdes

são azuis aos seus olhos. Pássaros

fugidos da gaiola da inspiração. Amam

as paisagens, como Platão a mulher

e não poupam o vento para o dizer.

Lembro-te, minha musa, como te perdes

nos braços dos cegos que proclamam

os teus ditâmes. És bruma: não me ames

e permite-me divagar por estes caminhos.

Ao menos conheço-os. Pressenti-os um dia,

numa aluvião desorganizada de pergaminhos,

alagando de esplendor todas as cidades.

E então morri, devastado na vã loucura

dessas invencíveis e demoradas tempestades,

moldadas em espirais de paixão oculta, em pura

explosão de incomensurável e revôlta poesia.

José António Gonçalves

2 comentários:

mood disse...

lindo...

Anónimo disse...

no se a quien le regalas tu eternidad, pero a mi regalaste una sonrisa y una subida de animo, gracias Davide, siempre las palavras.
ahora ya se a quien va
me desperte.
soñe.
en el jardin, y en tu mar de sentidos poeticos.

gracias gracias!
besos