quinta-feira, abril 05, 2007

Espelho : . part 1

Não te apetece gritar alto:
“-Amo-te!”?
Ou: “- Odeio-te!”?

Não te apetece perder no ar
Os braços num erguer bem alto
E gritares ao meu ouvido
Tenho saudades tuas
Ou, estou livre de ti?

Não te apetece?

Não te apetece chamares-me desgraçado,
Cruel, bandido, ordinário?
Ou, meu herói?

Não te apetece levares-me para outro lado,
Um sitio lindo, paradisíaco, uma ilha?
Isso!
É isso! Para uma ilha, não te apetece?
Ou, abandonares-me num berço à porta do hospital,
como sola de sapato que se perde ao andar,
com tanta insignificância?
Não te apetece velar sem destino?
Não te apetece retocar um ponto arruinado pelo vento?

Não te apetece ser como eu:
um rio sem margens para
Prender o teu barco?

Não te apetece ir à luta?
Não te apetece perder de propósito?
Não te apetece morrer?
Não te apetece nascer?
Não te apetece ir à lua?
Não te apetece ser saltimbanco?
Não te apetece escrever um drama?
Não te apetece gritar: -Chiça?
Não te apetece chorar rios de lágrimas?
Não te apetece levantar a cabeça?
Não te apetece olhar a vida?
Não te apetece descruzar os braços?
Não te apetece enfrentar o destino?
Não te apetece bater palmas?
Não te apetece dar passos de gigante?
Não te apetece correr?
Não te apetece saltar?
Não te apetece rodar?
Não te apetece respirar?
Não te apetece respirar?
Não te apetece respirar?

Não te apetece sonhar?

Não te apetece pousar os remos
do barco que navegas
e saltar num mergulho que te leve ao encontro de uma ilha onde possas guardar os nossos dias no baú do amor e enterra-lo na areia marcada, num mapa, para as vindouras gerações conquistarem tal tesouro, tal e qual piratas da primazia do amor?

Não te apetece sorrir num espelho de agua e tocá-lo
com o dedo fazendo surgir a imagem
do amor que buscas por entre as ondas da vida?
Não te apetece acender archotes e levantá-los na noite anunciando ao teu cavalo alado aonde deve pousar para te levar ao encontro do teu ser dual?

Não te apetece guardar o meu olhar
e a voz numa lata de ferrugem, ou lavar os pincéis que nunca ousaste sujar?
Não te apetece prender-te a um fio
De linho e sentir o
Conforto de uma manta feita especialmente
para ti?
Ou, cobrir-me de jornal e só
Sentir as demências do mundo
que te repugnam e te coiçam, para o fundo?

Não te apetece pintar de azul
O céu e inventar a brisa que chama por ti?

Não te apetece ser a nuvem
Que transporta a água
Que me molha o rosto
Que te tapa o sol
E me faz triste
Num quadro de holandês
Pintado em Poirrot
face pura branca
Vermelho carente
E brilho de lágrimas?

3 comentários:

Anónimo disse...

Não te apetece ser a ponte,
que apenas contempla o rio que flui
e silencisamente lhe oferece as suas lágrimas? A.

Se Calhar... disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Vi luz e entrei...não te apetece ver-me?

Tudo apetece...!!!
Há épocas em que a alma e o corpo, não suportam tanta sede,
sede de vida,
sede de morte,
sede de amar,
sede de ódio,
sede de revolta.
Tudo apetece...!!!
Bendito o tempo, que permite curar,que faz sanar as feridas e deixar que as cicatrizes passem a formar parte da geografia própria do corpo e da alma para que por fim possamos dispôr das recordações e darmos as boas vindas a novas experiências.
Maravilhoso, uma vez mais ler-te, e a capacidade de compartilhares tanto.

Beijos
Tesoura